Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Montenegro visitam um Brasil dividido

Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Montenegro, respectivamente, Presidente e Premier de Portugal, visitaram o Brasil no período de 16 a 18/02/25. Marcelo teve em sua agenda. reuniões de trabalho com Lula, no Palácio do Planalto e, à noite, participaram, da entrega do Prêmio Camões de Literatura a Adélia Prado, no Palácio do Itamaraty. Já Luís Montenegro, participou da Cúpula (cimeira) Brasil/Portugal, onde foram assinados vários acordos bilaterais.

PORTUGAL

Manoel Oliveira

2/23/20252 min ler

Em meio a uma das piores avaliações do governo Lula, com índices históricos de desaprovação atingindo 51% da população brasileira, a escolha do momento para a visita oficial das principais autoridades portuguesas ao Brasil levanta sérios questionamentos sobre a estratégia diplomática de Portugal.

O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e o novo Primeiro-Ministro Luís Montenegro desembarcaram em Brasília para a XIV Cúpula (Cimeira) Brasil/Portugal, aparentemente alheios ao cenário de crescente insatisfação popular com o governo brasileiro. Com uma desaprovação que já atinge 50,4% dos brasileiros, incluindo regiões historicamente favoráveis ao PT, como o Nordeste, a visita portuguesa parece mais um exercício de diplomacia superficial do que uma iniciativa estratégica bem planejada.

A assinatura de 19 acordos bilaterais durante o encontro, embora expressiva em números, ocorre em um momento em que o governo Lula enfrenta sua pior crise de credibilidade, com apenas 38% de aprovação popular [4]. Este cenário levanta dúvidas sobre a real capacidade de implementação destes acordos e sua efetividade a longo prazo, considerando a instabilidade política atual do Brasil.

Mais preocupante ainda é o fato de que, pela primeira vez, o índice de desaprovação do trabalho de Lula (49%) superou o de aprovação, segundo pesquisa da Quaest que ouviu 4,5 mil eleitores em todo o território nacional. Neste contexto, a presença das autoridades portuguesas pode ser interpretada como um involuntário endosso a um governo que perde rapidamente o apoio popular.

A recepção no Senado brasileiro, embora protocolarmente adequada, acontece em um momento em que as instituições brasileiras enfrentam questionamentos sobre sua capacidade de representar efetivamente os interesses da população [3]. A escolha de Montenegro em priorizar o Brasil em sua agenda internacional, logo no início de seu mandato, pode revelar-se um cálculo político arriscado.

Os números são ainda mais alarmantes quando analisamos as regiões: o Sul do país apresenta os menores índices de aprovação do governo Lula, enquanto até mesmo no Nordeste, tradicional reduto petista, a rejeição atinge níveis sem precedentes [3]. Este cenário de fragmentação política e social deveria ter sido considerado com mais cautela pelo governo português ao programar uma visita de tal magnitude.

A "diplomacia do sorriso" praticada durante o encontro contrasta fortemente com a realidade das ruas brasileiras, onde a insatisfação com o governo atual só aumenta. A assinatura de acordos bilaterais, por mais numerosos que sejam, pode ter sua legitimidade questionada quando um dos governos signatários enfrenta níveis tão baixos de aprovação popular.

Enquanto a visita portuguesa manteve as aparências diplomáticas, falhou em considerar o momento político delicado do Brasil. A decisão de realizar uma visita de Estado desta magnitude, quando o governo anfitrião enfrenta sua pior crise de popularidade, pode não apenas comprometer a efetividade dos acordos assinados, mas também afetar a credibilidade da própria diplomacia portuguesa, perante a opinião pública internacional.

A verdadeira diplomacia exige mais do que formalidades e acordos protocolares; requer sensibilidade ao contexto político e social do país parceiro. Neste aspecto, a visita portuguesa ao Brasil, embora rica em simbolismos e promessas, pode ter sido um erro de timing que o tempo se encarregará de revelar.

Visita em momento difícil