Quem ganhou as eleições francesas?

A esquerda francesa ao perder em primeiro turno as eleições para o parlamento europeu, arriscou tudo com Macron dissolvendo a Assembleia e convocando novo pleito. Foi uma jogada de risco, mas que acabou dando certo, com a esquerda ganhando mais assentos no Parlamento Europeu. Mas será que deu certo mesmo?

MUNDO

Manoel Oliveira

7/9/20242 min ler

A esquerda na França, assim como há 100 anos, quando o Presidente, diante da impossibilidade de constituir um governo, teve que renunciar ao cargo, coloca Emmanuel Macron em uma situação intrigante. Será que ele está seguindo o rumo de Alexandre Millerand? Diante da realização dos Jogos Olímpicos em Paris, quais são as coincidências que devem ser observadas?

A história requer uma reconsideração, devido às coincidências que nos fazem repensar certos conceitos e verdades que julgam-se serem absolutas.

Este país, conhecido pelas constantes mudanças de regimes - já na quinta república em dois séculos - pelas diversas revoluções e pelos constantes estados de revolta, apresenta um cenário onde apesar da imprevisibilidade, muitas vezes parece haver uma relação quase simétrica com o passado.

Emmanuel Macron, ao vencer a direita no segundo turno das eleições legislativas, pode ter buscado a bonificação que desejava. Após os primeiros resultados, Macron conseguiu afastar a possibilidade de uma coabitação com um governo, que poderia ter consequências desastrosas para o equilíbrio da União Europeia e a defesa de seus valores humanistas.

Contudo, não terminou garantindo um final tranquilo para o seu segundo mandato.

A Frente Popular que foi renovada e, consequentemente, elegeu mais deputados, é um mix de partidos de esquerda, cuja continuidade é incerta - como já foi demonstrado pelo modo como os líderes dos diversos partidos, atropelaram-se em declarações de vitória na noite da eleição.

Mesmo com a vitória da esquerda, ainda há dúvidas de como será formado o governo. O partido de Macron, apesar de estar em segundo lugar, tende a perder o protagonismo e a centralidade, que vinha obtendo nos últimos anos na política francesa. A ausência de uma maioria clara para qualquer partido ou coligação governamental, aliada à limitação constitucional imposta a Macron, de não poder convocar novas eleições dentro de um ano, agrava o impasse.

C´est la vie!

A solução para este problema está em alcançar acordos entre diferentes forças políticas, que permitam a formação de um governo aprovado pelo parlamento. Apesar do progresso para um governo de tecnocratas, como ocorreu recentemente na Itália, a Assembleia Nacional deverá aprovar.

Se esse consentimento não se manifestar, podemos encontrar paralelos com uma situação de 100 anos atrás. Alexandre Millerand, 11o presidente da III República, teve que renunciar ao cargo diante da rejeição de todos os chefes de governo por ele apresentados.

Diante da vitória da Frente Popular, Macron se encontra em uma situação semelhante à de Millerand frente ao então Cartel des Gauches (cartel da esquerda). Em 1924 e em 2024, houve ecos históricos difíceis de ignorar.

Na França, as certezas parecem sempre passíveis de questionamento.