Hugo Motta dá com uma mão e tira com a outra.

Em uma nação onde a política frequentemente se confunde com um roteiro de comédia pastelão, a recente aprovação da urgência para o PL da anistia na Câmara dos Deputados, surge não como um clímax, como se quer fazer crer, mas como um ato de encerramento de um espetáculo que se repete há décadas. A cortina se abre mais uma vez, para um palco iluminado pelos holofotes da conveniência, onde a moralidade cede lugar ao conluio e os princípios se curvam diante dos interesses obscuros. Para fechar o patético número com chave de ouro, o relator escolhido por Hugo Motta para dar forma a "obra de arte" inacabada de Marcelo Crivella (RE/RJ), foi Paulinho "da Força", que chegou a ser condenado a 10 anos de prisão pelo STF (que depois o livrou), por lavagem de dinheiro, organização criminosa, entre outros crimes. Foi uma "bela" escolha que, por si só, já sintetiza o escárnio, o cinismo e a ironia de todo o processo legislativo brasileiro.

BRASIL

Manoel Oliveira

9/19/20253 min ler

Paulinho da força
Paulinho da força

Não se sabe ainda, se a ala da direita na Câmara dos Deputados é infantil ou idiota, ao ainda acreditar em diálogo com o Presidente Hugo Motta (Republicanos/PB), que era um desconhecido penduricalho do Arthur Lira, até que o próprio Bolsonaro ajudou a eleger, com o apoio do Partido Liberal (PL). Seu começo foi muito bom, prometendo urgência para pautas caras à direita, como a anistia e a limitação dos poderes do Supremo Tribunal Federal, porém, bastou um aceno para a direita, que a podridão que tem assento cativo no regime PT/STF, o chamasse para uma conversa disfarçada de jantar na casa de Alexandre de Moraes.
A partir daí, Hugo Motta tornou-se mais um refém nas mãos dos dublês de "ministros" e políticos, por causa dos processos de improbidade administrativa que correm no STF, contra familiares próximos. Hugo Motta vem sendo duramente pressionado, mas encontrou uma válvula de escape, ao pautar a votação da urgência para o PL (Projeto de Lei) 2162/23, da autoria de Marcelo Crivella (Republicanos/RJ), que trata da anistia dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023.
O PL 2162/23 foi aprovado por larga margem, abrindo caminho para que a matéria não percorresse os tortuosos caminhos da comissões temáticas, onde, certamente, seria enterrado pela esquerda, sobretudo o PT e PSOL, com as suas frequentes manobras espúrias de obstrução e confusão.
O que parecia ser um alívio para Hugo Motta e para a direita, logo se mostrou como uma manobra pueril, já que o deputado e sindicalista Paulinho da Força foi nomeado relator e já disse em alto e bom tom, que "anistia, ampla, geral e irrestrita não haverá". Se não sabem, fiquem sabendo que a "força" do Paulinho, é a amizade dele com o Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Zanin, entre outros. Esse pessoal o livrou de uma pena de 10 anos de cadeia, por lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa.
A manobra de Motta é tão limpa, quanto a água de um pântano. Primeiro, se pauta e aprova a urgência para que o tema não vá a debate e seja votado a toque de caixa. Afinal, quem precisa de diálogo, quando sempre se pode construir um bom e lucrativo acordo nos bastidores? A "democracia" do Bananil agradece.
Paulinho da Força (ou seria "da forca"), conhecido é pela sua capacidade de ser... bem, Paulinho da Força, agora tem a missão de dar forma a essa "anistia do bem", para "pacificar" a nação. O que sairá daí? um relatório redigido em linguagem de churrasco de sindicato, com folhas sujas de gordura ou um documento juridicamente perfeito, com português impecável, com manchas de vinho frutado e forjado nas entranhas do onipresente e onisciente Poder Judiciário/Legislativo?
Hugo Motta parece cada vez mais entender, que a arte da política não versa sobre ideologia, mas sobre a capacidade de mover as peças certas, para que as pontas não fiquem soltas. As pontas, nesse caso, são os políticos que precisam de um "empurrãozinho" do STF, para abreviar seus problemas com a justiça, pois para os amigos, sempre haverá uma boa gaveta e para os inimigos, "dura lex, sed lex".
Isso tudo é quase que poético. Enquanto o povão discute se o preço da gasolina vai diminuir ou se a conta de luz vai aumentar, a banda podre da classe judiciária/política, se dedica a criar mecanismos de autopreservação. A anistia para senhoras de Bíblia na mão, vendedores de algodão doce e passantes, não é uma questão de princípios, mas de conveniência e, sobretudo, de justiça. Bolsonaro não é nenhuma candura de político, mas forjado por 28 anos no "baixo clero" da Câmara dos Deputados, conhece seus atalhos e está longe de ser descartável. Atrevo-me a dizer, que Bolsonaro pode ser uma exceção na política: é honesto. Ouso chegar a essa conclusão, porque nos últimos 6 anos, ninguém no Brasil teve a sua vida devassada da unha do pé à raiz do cabelo e nada acharam que o desabonasse, salvo fantasias como importunação de baleias e falsificação de cartão de vacinas.
Temos como certo, que a nossa Suprema Corte é prova de que, no Brasil, a lei é maleável, ou seja, ela se adapta aos interesses da minoria dominante e que o país não é para amadores.
No final das contas, o que nos resta é assistir passivos aos vídeos de deputados e senadores no YouTube, onde sua performance é sempre impecável, mas absolutamente inútil. O sinal enviado à sociedade é cristalino: não há seriedade no atual Congresso Nacional TikTok. Que venham os próximos vídeos; a pipoca já está estalando na panela e o guaraná está no gelo.