Em cuidados paliativos o SNS agoniza lentamente
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) de Portugal enfrenta uma das suas maiores crises. A falta de profissionais é o ponto dos mais críticos, afetando diretamente a qualidade do atendimento. Além da escassez de pessoal, o envelhecimento da população e consequente aumento da procura por serviços de saúde, além da burocracia excessiva, são apontados como desafios que o SNS não está conseguindo enfrentar com os recursos atuais. A situação atual coloca o SNS português, em cuidados paliativos. É necessária uma reforma profunda, que não apenas valorize os profissionais, mas otimize a gestão e garanta financiamento adequado às necessidades do sistema, para que este não entre em colapso irreversível, prejudicando a todos os cidadãos.


O Serviço Nacional de Saúde (SNS) de Portugal, enfrenta um cenário de “extrema urgência”, cujo ponto de inflexão crítico, tem levado os bastonários das principais ordens e sindicatos de saúde, a emitirem um alarme público.
A situação está muito longe de ser um problema pontual, pois trata-se de uma crise estrutural profunda, agravada pelo tempo e acompanhada de um alerta de que o sistema está em risco de colapso quase que irreversível.
Esta triste realidade, contrasta com as promessas do atual governo de Luís Montenegro (PSD), que ao assumir o Poder, prometeu um "plano de emergência para a saúde em 60 dias", para resolver todos os problemas do setor.
A ambição é grande, mas a realidade é outra e muito dura.
Na linha de frente da insatisfação, estão os profissionais de saúde. Todavia, o maior prejudicado é sempre o povo português, que está a ficar cada vez mais envelhecido e a necessitar de cuidados cada vez mais prementes e continuados.
A presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM), Joana Bordalo e Sá, é taxativa: “o que estamos a viver hoje, não é do acaso nem é pontual, é o resultado deliberado do enfraquecimento do SNS”.
Suas palavras apesar da obviedade, expõem o desespero de uma classe, que vê a escassez de profissionais, a falta de condições de trabalho, de recursos financeiros e o proposital excesso de burocracia, corroerem o sistema nas suas entranhas. O número de partos fora das maternidades, já ultrapassou os 40 neste ano de 2025 (quase o total do ano passado) e se revela como um símbolo dramático dessa crise.
A falta de profissionais médicos e enfermeiros qualificados, é o resultado de uma combinação perversa de fatores, que vêm se aprofundando com o passar dos sucessivos governos, mas cuja situação se agravou de forma mais intensa sob a gestão atual. A bem da verdade, o atual governo de Luís Montenegro, herdou apenas destroços de um SNS oriundo da administração do Partido Socialista (PS), sobretudo, das polémicas gestões de António Costa à frente do governo português.
Uma política fracassada de “externalização de serviços” e a constante falta de investimento público, levaram o SNS a atuar mais como um financiador, do que como um prestador de serviços públicos de saúde. A saída constante de médicos e enfermeiros para o setor privado, ou mesmo para outros países, é a consequência direta de uma gestão precária.
Para os enfermeiros, a falta de reconhecimento do “risco e penosidade da profissão”, os contratos precários e a remuneração incompatível com a exigência do cargo são determinantes. Fátima Monteiro do INFARMED, compara a realidade portuguesa com a de outros países europeus, onde os salários em sua maioria ultrapassam o dobro daqueles pagos em Portugal, bem como a progressão de carreira é mais rápida, incentivando a permanência e valorizando dos profissionais.
Os números não mentem. Somente no primeiro semestre deste ano de 2025, foram registradas 45 mil horas extraordinárias em algumas instituições. A ausência de um plano de governo, com investimento concreto na saúde pública, aliada a "medidas avulsas e falsas negociações", tem levado o SNS a uma situação quase que insustentável. A FNAM aponta que, mesmo com a necessidade de mil novos médicos no país, o governo abriu apenas metade das vagas necessárias e das quais somente 270 foram preenchidas, mostrando uma clara falta de interesse da classe.
A crise se manifesta de forma dramática no dia a dia. A presidente da FNAM, Joana Bordalo e Sá, exemplifica com o fechamento de serviços de urgência e a concentração de atendimentos em centros regionais, como a urgência do Hospital Santa Maria, em Lisboa, que esteve fechada por mais de 20 dias em agosto. Essa política tem o efeito de sobrecarregar outras unidades e forçar pacientes a percorrer longas distâncias para serem atendidos.
A falta de acesso à medicina geral e familiar é outro sintoma grave da crise. Portugal caminha para a marca de 1,7 milhão de cidadãos sem médico de família. A situação se agrava com a recusa da ministra da Saúde em abrir mais vagas para a especialidade, mesmo com a demanda crescente. No exemplo da Unidade Local de Saúde de Trás-os-Montes, um pedido de 28 vagas para médicos de família resultou em pouco mais de 10, deixando profissionais qualificados de fora do sistema.
Diante do caos, o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, já havia alertado para o “nível crítico de dificuldades” em julho, prevendo que o sistema chegava a uma “linha vermelha”. Ele e outros líderes de saúde reafirmam que o SNS não pode continuar a viver “à custa do sacrifício” dos seus profissionais. A culpa, segundo eles, não é dos médicos, mas da “falta de vontade política para instituir salários justos e condições dignas”.
O primeiro-ministro Luís Montenegro defendeu-se em abril, afirmando que a situação do SNS estava melhor do que no ano anterior, com menos tempo de espera e urgências fechadas. No entanto, a visão dos profissionais e os dados do sistema parecem contar uma história diferente. A análise crítica de Marcelo Rebelo de Sousa para setembro também é aguardada, enquanto os cidadãos, como sempre, continuam a depender da linha Saúde 24 e de informações online para tentar descobrir qual serviço de saúde está funcionando.
A mensagem é clara: o SNS precisa de um investimento robusto e de medidas urgentes para reverter o quadro. As falas de Montenegro contrastam com a realidade de partos fora das maternidades, urgências fechadas e a evasão de profissionais, tornando-se mais uma "fantasia retórica", como diria um observador, que não reflete a grave crise que afeta a saúde pública portuguesa. A menos que haja uma mudança de rumo, o futuro do SNS, um pilar da sociedade, permanece incerto.