A gripe em Portugal e a crise nas urgências portuguesas

Todos os anos no aproximar-se o inverno, Portugal enfrenta um aumento exponencial de acessos às urgência hospitalares, sendo a maioria de infecções respiratórias, onde a gripe é a principal vilã. A falta de estrutura, de investimento, de profissionais e de estratégia, tornam a situação da saúde caótica no país.

PORTUGAL

Manoel Oliveira

1/9/20255 min ler

A gripe é uma preocupação constante em Portugal, particularmente durante os meses mais frios do ano, quando a incidência de casos aumenta.

Nos últimos anos, observa-se uma variação significativa na zoonose sazonal, refletindo padrões globais de infecções virais. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Direção-Geral da Saúde (DGS) têm monitorado as cepas virais, que frequentemente se alteram, provocando surtos municipais e epidemiológicos que afetam diferentes regiões de forma desigual.

Fatores como a mobilidade populacional, as condições climáticas e o estado geral de saúde da população desempenham um papel crucial no aumento dos casos de gripe. Um ambiente propício para a propagação do vírus, está frequentemente associado a temperaturas mais baixas, onde as pessoas tendem a permanecer em ambientes fechados, facilitando a transmissão. Além disso, o envelhecimento da população e a presença de doenças crónicas, aumentam a suscetibilidade a complicações graves da gripe, tornando grupos de risco ainda mais vulneráveis.

A vacinação anual é uma das principais estratégias para mitigar a propagação do vírus. A adesão às campanhas de vacinação, no entanto, ainda é insuficiente em alguns segmentos da população. É crucial que campanhas de conscientização sejam ampliadas, para informar a população sobre a importância das vacinas, ressaltando que a imunização não apenas protege o indivíduo, mas também contribui para a proteção comunitária ao reduzir as taxas de infecção.

Além do impacto na saúde individual, o aumento da incidência de gripe coloca uma pressão considerável sobre o sistema de saúde, especialmente nas urgências hospitalares. A gestão eficaz da gripe é fundamental para assegurar que os hospitais possam continuar a atender as necessidades de todos os pacientes, não apenas os que sofrem de complicações respiratórias relacionadas ao vírus da gripe.

A Crise nas Urgências

As unidades de urgência em Portugal, já enfrentam um cenário de grande pressão e desafios crescentes, especialmente durante os meses de inverno, quando o número de casos de gripe aumenta significativamente, mas o número de profissionais, tais como médicos e enfermeiros mantém-se constante ou até diminui.

Este aumento acentuado de procura, tem levado a tempos de espera alarmantes nos serviços de urgência, resultando em uma sobrecarga notável para os profissionais de saúde. Dados recentes indicam que, em algumas regiões, os pacientes aguardam mais de cinco horas para serem atendidos, o que pode agravar suas condições e desestabilizar ainda mais o sistema.

Como é cediço, as principais causas desta crise está na infraestrutura das unidades de urgências, que não tem acompanhado o crescimento da população e a complexidade das necessidades da saúde. A carência de recursos humanos qualificados, também é um fator preponderante. Muitos hospitais relatam uma falta de médicos e enfermeiros, o que compromete a agilidade no atendimento. Além disso, a pandemia da COVID-19 deixou um legado de esgotamento emocional e físico entre os profissionais, exacerbando dificuldades pré-existentes e dificultando a recuperação dos serviços de saúde.

Testemunhos de profissionais da saúde, destacam o dilema enfrentado diariamente, lutando para fornecer cuidados adequados sob condições adversas. Enfermeiros relatam a dificuldade em atender a demanda, enquanto médicos descrevem a pressão constante para tomar decisões rápidas em situações de emergência, cientes, de que um pequeno atraso pode ter consequências graves para a saúde dos utentes. Os relatos de pacientes também são igualmente alarmantes; muitos sentem que suas necessidades não estão sendo atendidas, o que gera ansiedade e desconfiança no sistema de saúde estatal.

Dessarte, a crise nas urgências em Portugal não é apenas uma questão de estatísticas, mas uma realidade que impacta a vida de milhares de cidadãos portugueses, refletindo deficiências estruturais e operacionais que precisam de atenção e ação imediata. Esses desafios devem ser enfrentados pelo governo com rapidez, para garantir que todos tenham acesso universal, a um atendimento de saúde digno e eficaz.

Impactos Sociais e Econômicos

A gripe, especialmente durante os meses de maior incidência, apresenta uma série de impactos sociais e econômicos que afetam não só a coletividade, mas também a sociedade como um todo. É evidente que os trabalhadores, ao contraírem a doença, ocasionam baixas médicas consideráveis em seus locais de trabalho, resultando em grande perda de produtividade.

Essa situação é particularmente crítica, nos setores que demandam mão-de-obra constante, onde as baixas médicas não apenas comprometem a eficiência operacional, mas também geram um aumento da carga de trabalho, para aqueles que permanecem em exercício. Assim, a incapacidade temporária resulta em um ciclo vicioso, que prejudica tanto a saúde dos trabalhadores, quanto a sustentabilidade econômica das empresas.

Não fosse isso, a sobrecarga nos serviços de urgência causada pela crescente demanda advinda de surtos de gripe, traz consigo um custo econômico elevado. Os hospitais e clínicas são forçados a alocar recursos extras, o que pode resultar em uma diminuição da qualidade do atendimento prestado, devido ao estresse nos sistemas e subsistemas de saúde. A percepção pública acerca da qualidade do sistema de saúde, é substancialmente influenciada por essas experiências, levando a um aumento da insatisfação entre os cidadãos e questionamentos sobre a eficácia do suporte governamental.

Experiências de outros países que enfrentaram crises semelhantes, podem oferecer lições valiosas para Portugal. Por exemplo, países que implementaram campanhas de vacinação em massa e reforçaram a infraestrutura de saúde pública, sobretudo, durante períodos tidos como críticos, conseguiram mitigar os impactos sociais e econômicos da gripe. Ao aprender com essas abordagens, Portugal pode, eventualmente, desenvolver estratégias mais eficientes para lidar com os desafios impostos pela gripe, bem como pela crise nas urgências, resultando na melhoria na saúde pública e uma recuperação econômica sustentável.

Possíveis Soluções e Reformas

A crise nas urgências em Portugal, exacerbada pela gripe sazonal, demanda uma abordagem multifacetada, que considere a implementação de reformas estruturais no sistema de saúde. Uma das principais soluções passa pela otimização da gestão de recursos e isso envolve a análise do fluxo de pacientes nas unidades de urgência, face a uma redistribuição geográfica equitativa de recursos humanos e financeiros. Em outras palavras: mais para quem mais precisa.

A melhora na eficiência operacional, permitirá que os serviços de emergência lidem melhor com o aumento súbito no volume de atendimentos durante os picos da gripe. Além disso, é crucial criar campanhas de vacinação eficazes e abrangentes. A vacinação anual contra a gripe deve ser incentivada a níveis mais elevados, visando não apenas proteger os grupos de risco, mas, sobretudo, também a população em geral. Com a integração de tecnologias de informação, como aplicativos de saúde, é possível facilitar o acesso à vacinação e manter a população informada sobre a importância da imunização.

Outro aspecto relevante, se trata do aumento de investimento em infraestrutura hospitalar. A modernização dos hospitais e centros de saúde é imprescindível, para atender às demandas crescentes. A criação de unidades de cuidados intermédios e intensivo, mas também a expansão do atendimento primário, podem reduzir a pressão sobre as urgências.

É igualmente vital, que o atual governo considere a valorização dos profissionais de saúde, proporcionando boas condições de trabalho, salários dignos e incentivos que promovam a retenção de talentos nas áreas críticas.

Por fim, a adoção de políticas públicas em saúde deve incluir ações de conscientização da população, sobre a gripe e suas consequências. Incentivar hábitos saudáveis e oferecer informações sobre prevenção pode contribuir significativamente para a redução dos casos de gripe, minimizando assim a sobrecarga no sistema de saúde. Medidas proativas e educativas são fundamentais para promover uma abordagem mais eficiente no enfrentamento da gripe e na melhoria das urgências em Portugal.